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O curruncho de artistas / Letras Galegas 2009 - Ramón Piñeiro
Saudade 1951

Uma introdução à Filosofia da Saudade do Ramón Piñeiro

                                          

                    

Cando penso que te fuches,

Negra sombra que m’asombras

Ô pe d’os meus cabezales

Tornas facéndome mofa.

                                                                           

A palavra: melancolia causada pela lembrança de um bem de que se

está agora privado; mágoa que se sente pela ausência ou  desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações; pesar; nostalgia. (Dicionário Porto Editora)

Por associação psicológica, produziu-se um influxo de saúde e

saudade (de salutate –salvação). Saudade viria a ser a velha

soidade influída por saúde e saludade. (Carolina Michaelis, A

Saudade Portuguesa)

 

Cando maxino qu’ês ida

N’o mesmo sol te m’amostras,

Y eres a estrela que brila,

Y eres o vento que zóa.

 

Metafísica da Saudade: A vivência da saudade recolhe o     

peculiar matizde sentimentalidade do espírito

galego-português.

Na nostalgia reflete-se a distância da terra nativa;

na añoranza, a lembrança de algum bem perdido.

Sentimentos de ausência.

Mas a saudade é um sentimento sem objeto, um

puro sentir livre de toda relação com o pensamento

ou com a  vontade; daí sua escuridade, sua

incompreensibilidade.

O ser humano dispõe de uma faculdade intelectual

que lhe traz cognoscitivamente a realidade,

também da vontade que atua sobre a realidade,

mas fica ainda outra dimensão, a da sua intimidade

que se percebe mediante o sentimento, sentir que faz

presente a sua interioridade, sua verdadeira

raiz. O reino da saudade, pois, é o da inefável

singularidade.

Se ao povo grego se lhe reconhece uma primazia

do intelecto, da razão, e ao alemão, da vontade,

à comunidade espiritual galego-portuguesa,

o sentimento – sua mais alta criação cultural foi

a lírica -, por isso a sua nota espiritual mais  genuína

é a saudade.

Não é um simples estado psicológico como a

morrinha, senão uma vivência originária de plena

significação ontológica na que se fica afundido dentro

de si, isolado, despido de toda contaminação mundana.

Percebendo a soidade do seu ser, descobre-se a si.

O sentimento dessa soidade, a saudade, será

também um pulo de transcendência que tenda à

humanização do mundo, empapando-o numa

orvalheira de sentimento.

Pela via da interiorização, da intimidade

solitária, pode-se chegar a atingir os lindeiros do Ser,

da plenitude.

 

Si cantan, ês tí que cantas,

Si choran, ês tí que choras,

Y ês o marmurio d’o rio,

Y ês a noite y ês a aurora.

 

Formas da Saudade: A Grécia clássica procurava o Cosmos,

Alemanha romântica, o Absoluto na Vontade,

Nós, na Soidade, o  sentimento que chamados

de Saudade. Quando vivemos a soidade, sentimos

saudade.

A soidade do sujeito abandonado pelo objeto,

nostalgia, anseio, dará lugar às formas da saudade

 nostálgica, e anelante. Modos que dependem da

memória mais da vontade, e produzem a presença

dolorosa da soidade frente a algo que se lembra

ou deseja, porque revela uma carência ou privação

de algo amado ou apetecido.

A morrinha não é mais que uma conseqüência da

saudade, esta pode-se sair entregando-se a um

pulo de transcendência, ou abandonando-se a uma

passividade interior que conduz à melancolia.

Outras vezes, ocorre ao revês. O que caracteriza à

morrinha é a tristeza depressiva; e à saudade,

a carência de significação psicológica.

O ser humano conhece a sua singularidade

sentimentalmente, sabe dos seus limites sentindo-os:

 conhecer-se é sentir-se. O conhecer intelectual

humaniza-se na dúvida, que surge do seu contato

com o sentimento.

 

En todo estás e tí ês todo,

Pra min y en min mesma moras,

Nin m’abandonarás nunca,

Sombra que sempre m’asombras.

 

 Saudade em 1951 era liberdade: O essencial humano é a

liberdade, que  para se realizar, singulariza-se,

humanizando-se, a saudade   será o sentimento 

desta singularização. Se a cultura é a   resposta

humana às necessidades básicas, o jeito de se situar

 no  mundo, tratando de dominar o tempo, a

saudade correspondência suporá um sentimento

trivalente no que se entrelaçam o goze da lembrança

no passado, a tristeza da ausência no presente e

esperança de recobramento no futuro.

O nosso povo, na sua funda dispersão social,

Socialmente esmigalhado, vive individualmente

mergulhado na natureza, submetido à pressão

do ambiente cósmico. Há um sentimento de soidade

 mais pleno frente à natureza que frente aos demais

seres humanos; pelo que a comunicação com a

natureza será puro monólogo, uma forma de

escutar com mais acuidade a própria intimidade.

 

Rosalía de Castro: Olha o mundo e a vida humana através

 da dor,  única verdade:

 

Desde entonces busquei as tiniebras

máis negras e fondas

e busqueinas en vano sempre…

 

                                                                                                                   Antom

A Filosofia da Saudade no original:na nostalxia 0 sentimento

 reflexa a lonxanía da  terra nativa e o desexo de retorno;

 na añoranza, a lembranza de algún ben perdido (nostalxia

e  añoranza coinciden en seren sintimentos de ausencia, un

de ausencia no espacio e outro de  ausencia no tempo)…

                                                                     

 … a saudade carece de referencia a un obxecto…

 No caso da saudade non se trata dun eco sentimental

 de "algo"; é un sentimento sen obxecto, un puro sentir,

0 decorrer espontáneo do sentimento ceibe de toda relaci6n

co pensamento ou  coa vontade. De ai a súa escuridade,

a súa incomprensibilidade conceptual. (pág. 30-31)

 

 Mais velai que esta experiencia da intimidade radical

 do home e a nota distintiva da espiritualidade

galaicoportuguesa,  experiencia que na nosa lingua recibe

0 nome  de Saudade. De onde se segue que a saudade

non é  um  sinxelo estado sicol6xico, como e, por exemplo,

 a morriña, sen6n unha vivencia orixinaria, de plena

 significaci6n  ontol6xica, pois na saudade 0 home queda

 afundido  dentro de si mesmo, illado de todo contacto

 exterior, espido de toda contaminaci6n mundana; queda

en estado  de pureza ontol6xica. ¿Que descobre 0 home

 no seu eido  interior, cando chega a el polo camiño da

saudade? Desc6brese  a si mesmo, pero neste escuro

 como singularidade percibe a sua

 

soidade ontol6xica.

 Sentir esta soidade ontol6xica é sentir Saudade. A Saudade

 é, pois, 0 sentimento da soidade ontol6xica do home.

 Este estado sentimental s6 se reflexa ou se transparenta na

 poesía lírica, que é, polo tanto, a voz da intimidade humana,

 a manifestaci6n máis directa do seu ser, a revelaci6n

 do home. (pág. 36)

 ¿Cómo ‘coñece’ o home a súa singularidade?

 O home coñece a súa singularidade sentimentalmente.

A forma de coñecer ‘os seus propios

 límites’ é mesmamente sentíndoos. (pág. 57)

 

… cultura… como a resposta que o home dá ás súas

 necesidades básicas; como o xeito que o home  ten de se

 situar no mundo… (pág. 82)

 

 O noso pobo estivo sempre asentado nunha profunda

dispersión social; está, digamos,  socialmente esmigallado

en núcleos mínimos, de forma que os contornos da personalidade

non  son absorvidos, nin sequera atenuado, polo coxunto.

 Pódese dicir que o home galego vive  individualmente

inmerso na natureza; mais que sometido á presión do ambiente

 social, vive  sometido á presión do ambiente cósmico.

Isto dá lugar a dous tipos de experiencias: por unha

 banda, o sentimento de soidade e máis inmediato e pleno

 frente á natureza que frente ós demais homes; por outra

 banda, a comunicación, o diálogo coa natureza é, en

realidade, un puro monólogo,  un falar consigo mesmo,

unha forma de escoitar con máis acuidade a propia intimidade.

 (pág. 100-101)




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