Uma introdução à Filosofia da Saudade do Ramón Piñeiro
Cando penso que te fuches,
Negra sombra que m’asombras
Ô pe d’os meus cabezales
Tornas facéndome mofa.
A palavra: melancolia causada pela lembrança de um bem de que se
está agora privado; mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações; pesar; nostalgia. (Dicionário Porto Editora)
Por associação psicológica, produziu-se um influxo de saúde e
saudade (de salutate –salvação). Saudade viria a ser a velha
soidade influída por saúde e saludade. (Carolina Michaelis, A
Saudade Portuguesa)
Cando maxino qu’ês ida
N’o mesmo sol te m’amostras,
Y eres a estrela que brila,
Y eres o vento que zóa.
Metafísica da Saudade: A vivência da saudade recolhe o
peculiar matizde sentimentalidade do espírito
galego-português.
Na nostalgia reflete-se a distância da terra nativa;
na añoranza, a lembrança de algum bem perdido.
Sentimentos de ausência.
Mas a saudade é um sentimento sem objeto, um
puro sentir livre de toda relação com o pensamento
ou com a vontade; daí sua escuridade, sua
incompreensibilidade.
O ser humano dispõe de uma faculdade intelectual
que lhe traz cognoscitivamente a realidade,
também da vontade que atua sobre a realidade,
mas fica ainda outra dimensão, a da sua intimidade
que se percebe mediante o sentimento, sentir que faz
presente a sua interioridade, sua verdadeira
raiz. O reino da saudade, pois, é o da inefável
singularidade.
Se ao povo grego se lhe reconhece uma primazia
do intelecto, da razão, e ao alemão, da vontade,
à comunidade espiritual galego-portuguesa,
o sentimento – sua mais alta criação cultural foi
a lírica -, por isso a sua nota espiritual mais genuína
é a saudade.
Não é um simples estado psicológico como a
morrinha, senão uma vivência originária de plena
significação ontológica na que se fica afundido dentro
de si, isolado, despido de toda contaminação mundana.
Percebendo a soidade do seu ser, descobre-se a si.
O sentimento dessa soidade, a saudade, será
também um pulo de transcendência que tenda à
humanização do mundo, empapando-o numa
orvalheira de sentimento.
Pela via da interiorização, da intimidade
solitária, pode-se chegar a atingir os lindeiros do Ser,
da plenitude.
Si cantan, ês tí que cantas,
Si choran, ês tí que choras,
Y ês o marmurio d’o rio,
Y ês a noite y ês a aurora.
Formas da Saudade: A Grécia clássica procurava o Cosmos,
Alemanha romântica, o Absoluto na Vontade,
Nós, na Soidade, o sentimento que chamados
de Saudade. Quando vivemos a soidade, sentimos
saudade.
A soidade do sujeito abandonado pelo objeto,
nostalgia, anseio, dará lugar às formas da saudade
nostálgica, e anelante. Modos que dependem da
memória mais da vontade, e produzem a presença
dolorosa da soidade frente a algo que se lembra
ou deseja, porque revela uma carência ou privação
de algo amado ou apetecido.
A morrinha não é mais que uma conseqüência da
saudade, esta pode-se sair entregando-se a um
pulo de transcendência, ou abandonando-se a uma
passividade interior que conduz à melancolia.
Outras vezes, ocorre ao revês. O que caracteriza à
morrinha é a tristeza depressiva; e à saudade,
a carência de significação psicológica.
O ser humano conhece a sua singularidade
sentimentalmente, sabe dos seus limites sentindo-os:
conhecer-se é sentir-se. O conhecer intelectual
humaniza-se na dúvida, que surge do seu contato
com o sentimento.
En todo estás e tí ês todo,
Pra min y en min mesma moras,
Nin m’abandonarás nunca,
Sombra que sempre m’asombras.
Saudade em 1951 era liberdade: O essencial humano é a
liberdade, que para se realizar, singulariza-se,
humanizando-se, a saudade será o sentimento
desta singularização. Se a cultura é a resposta
humana às necessidades básicas, o jeito de se situar
no mundo, tratando de dominar o tempo, a
saudade correspondência suporá um sentimento
trivalente no que se entrelaçam o goze da lembrança
no passado, a tristeza da ausência no presente e
esperança de recobramento no futuro.
O nosso povo, na sua funda dispersão social,
Socialmente esmigalhado, vive individualmente
mergulhado na natureza, submetido à pressão
do ambiente cósmico. Há um sentimento de soidade
mais pleno frente à natureza que frente aos demais
seres humanos; pelo que a comunicação com a
natureza será puro monólogo, uma forma de
escutar com mais acuidade a própria intimidade.
Rosalía de Castro: Olha o mundo e a vida humana através
da dor, única verdade:
Desde entonces busquei as tiniebras
máis negras e fondas
e busqueinas en vano sempre…
Antom
A Filosofia da Saudade no original: … na nostalxia 0 sentimento
reflexa a lonxanía da terra nativa e o desexo de retorno;
na añoranza, a lembranza de algún ben perdido (nostalxia
e añoranza coinciden en seren sintimentos de ausencia, un
de ausencia no espacio e outro de ausencia no tempo)…
… a saudade carece de referencia a un obxecto…
No caso da saudade non se trata dun eco sentimental
de "algo"; é un sentimento sen obxecto, un puro sentir,
0 decorrer espontáneo do sentimento ceibe de toda relaci6n
co pensamento ou coa vontade. De ai a súa escuridade,
a súa incomprensibilidade conceptual. (pág. 30-31)
Mais velai que esta experiencia da intimidade radical
do home e a nota distintiva da espiritualidade
galaicoportuguesa, experiencia que na nosa lingua recibe
0 nome de Saudade. De onde se segue que a saudade
non é um sinxelo estado sicol6xico, como e, por exemplo,
a morriña, sen6n unha vivencia orixinaria, de plena
significaci6n ontol6xica, pois na saudade 0 home queda
afundido dentro de si mesmo, illado de todo contacto
exterior, espido de toda contaminaci6n mundana; queda
en estado de pureza ontol6xica. ¿Que descobre 0 home
no seu eido interior, cando chega a el polo camiño da
saudade? Desc6brese a si mesmo, pero neste escuro
como singularidade percibe a sua
soidade ontol6xica.
Sentir esta soidade ontol6xica é sentir Saudade. A Saudade
é, pois, 0 sentimento da soidade ontol6xica do home.
Este estado sentimental s6 se reflexa ou se transparenta na
poesía lírica, que é, polo tanto, a voz da intimidade humana,
a manifestaci6n máis directa do seu ser, a revelaci6n
do home. (pág. 36)
¿Cómo ‘coñece’ o home a súa singularidade?
O home coñece a súa singularidade sentimentalmente.
A forma de coñecer ‘os seus propios
límites’ é mesmamente sentíndoos. (pág. 57)
… cultura… como a resposta que o home dá ás súas
necesidades básicas; como o xeito que o home ten de se
situar no mundo… (pág. 82)
O noso pobo estivo sempre asentado nunha profunda
dispersión social; está, digamos, socialmente esmigallado
en núcleos mínimos, de forma que os contornos da personalidade
non son absorvidos, nin sequera atenuado, polo coxunto.
Pódese dicir que o home galego vive individualmente
inmerso na natureza; mais que sometido á presión do ambiente
social, vive sometido á presión do ambiente cósmico.
Isto dá lugar a dous tipos de experiencias: por unha
banda, o sentimento de soidade e máis inmediato e pleno
frente á natureza que frente ós demais homes; por outra
banda, a comunicación, o diálogo coa natureza é, en
realidade, un puro monólogo, un falar consigo mesmo,
unha forma de escoitar con máis acuidade a propia intimidade.
(pág. 100-101)
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